Trabalhadores qualificados aproveitam a carência do mercado e mostram-se cada vez mais seletivos em relação às organizações contratantes

| por Rogerio Leme | 5/3/2014


Rogerio Leme▶ Diante de um mercado delicado e mesmo frente às surpresas na esfera econômica, os brasileiros mostram-se mais ousados quando o quesito é escolher um novo trabalho. Isso pode ser constatado numa pesquisa realizada pela empresa de Recursos Humanos Kelly Survey junto a mais de 200 mil trabalhadores com experiência de mercado entre um a cinco anos. Desse universo estudado, cerca de quatro mil pessoas foram entrevistadas apenas no Brasil. Os dados do estudo, revelado no segundo semestre de 2014, apontaram que 70% do público consultado estão atentos às novas oportunidades e, ao mesmo tempo, confessaram que estão mais cautelosos ao assinar um contrato com uma organização.


No caso específico do Brasil, a falta de trabalhadores qualificados contribui para que as pessoas tornem-se mais exigentes quanto à escolha da empresa em que irão atuar, afinal quem apresenta competências técnicas e comportamentais compreende que é um talento valorizado e faz jus à entrega que oferecerá à organização. Outro fator relevante está direcionado à imagem da empresa. Os entrevistados pela Kelly Survey mostram preocupação quanto à reputação da empresa que irá contratá-los (45% dos brasileiros consultados), enquanto que a média mundial aponta para a casa dos 35%.



Outros fatores que aparecem na lista dos brasileiros: pouca autonomia para decisão, prazos impossíveis de serem cumpridos em contrapartida de metas que extrapolam a capacidade do indivíduo. Também aparecem na listagem: falta de reconhecimento e salários não condizentes com os cargos exercidos.



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Infelizmente, nem todas as empresas ainda mostram interesse por estudos dessa natureza e isso não deveria acontecer, pois sinalizam tendências que o mercado incorpora dia a dia. Vejamos, por exemplo, o fator “poder de decisão”, sinalizado como sendo crucial para que ele ingresse ou não na empresa. Hoje, encontramos profissionais decididos a mostrarem seus valores para as organizações e isso só é possível quando encontram espaço para apresentarem ideias, para serem proativos diante das situações do dia a dia e de terem autonomia para darem seus próprios passos. Esse tipo de comportamento é muito comum junto aos jovens que já estão no mercado de trabalho ou que buscam por uma oportunidade.



Paralelamente a essa necessidade de autonomia surge em cena outro fator que não pode ser esquecido: investimento no desenvolvimento dos colaboradores. Hoje, vemos organizações de vários segmentos adotarem posturas ousadas e darem uma guinada na Gestão de Pessoas quando adotam recursos como a Gestão por Competências, pois existe uma necessidade das próprias empresas deixarem claro o que elas esperam dos seus colaboradores.

No caso específico da Gestão por Competências, ela se torna valiosa porque é uma metodologia que permite promover a integração entre os diferentes módulos de Gestão de Pessoas, mas sempre de uma maneira alinhada à estratégia da empresa. Assim sendo, as organizações passarão a manter uma linguagem mais clara com seus profissionais e a contar com talentos cada vez mais produtivos para a obtenção de resultados organizacionais. Pensemos nisso agora e não posterguemos mais essa realidade, pois além do dinamismo contínuo do mercado os profissionais também se mostram cada vez mais exigentes. ■

Licença Creative CommonsO artigo “Profissionais estão cada vez mais exigentes no quesito Empresa”, de Rogerio Leme está licenciado pela Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Permitida a reprodução do artigo desde que citada a fonte e/ou link. Contate-nos para autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em https://www.lemeconsultoria.com.br/faleconosco/.

 




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Animação: Denis Sinachi / CMKT Leme

Especialistas dão dicas para você planejar melhor o seu futuro.
Confira a entrevista de Rogerio Leme para O Estadão


Por Gustavo Coltri para O Estado de S. Paulo

Saber avaliar o passado e planejar o futuro é uma arte que nem todo mundo domina, mas que a maioria exercita no fim de cada ano. O período típico de balanço está de volta e renova as chances de realizações das promessas de réveillon, algumas delas profissionais.

A dinâmica de quatro eixos orienta a elaboração dos objetivos pessoais, na avaliação do diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional), ROGERIO LEME: saúde, situação financeira, carreira e vida social.

“O profissional tem de identificar nesses eixos, em que aspecto ele foi vulnerável e o que ele não abre mão. Posso ter uma grande carreira e abrir mão da saúde ou ganhar dinheiro e trabalhar com algo que não gosto?”

Em outras palavras, a escolha de um foco a seguir tem de ser vista, segundo ele, juntamente com suas contrapartidas nos demais domínios da vida. Planejar bem, no entanto, não é o suficiente. Rogerio Leme afirma que apenas a gestão efetiva da carreira e da vida pessoal garante a ocorrência das transformações.

“Pelo menos uma vez por mês devo identificar como está o cenário de execução do meu plano, para que eu possa agir proativamente”, diz.

 

Rogerio Leme / Foto: Denis Sinachi

Foto: Denis Sinachi

Professor Rogerio Leme, Diretor de Desenvolvimento Organizacional da ABRH Brasil

Na hora de rever os acertos e erros no campo da carreira do ano que passou, não se contaminar pelos eventos mais recentes é a primeira dica da professora Ana Luisa Pliopas, responsável pela Coordenadoria de Estágios e Colocação Profissional (FGV-EASP). “Eles parecem mais relevantes do que aqueles ocorridos no início do ano. Então, é importante pegar o calendário e fazer um resgate dos temas de cada mês.”

Ana Luisa diz que os registro devem se resumir a anotações sucintas, sem julgamentos dos possíveis descumprimentos de metas. “Guarde o chicote, mas tenha curiosidade pelo que você não fez. Tente entender por que deixou as tarefas de lado. E antes de planejar o futuro, a regra número um é: encerre de vez o ano que passou.”

Para o coach Homero Reis, o tempo dedicado ao passado é importante, por que um dos pressupostos da vida é de que os resultados alcançados são coerentes com as decisões tomadas. “Então, tenho de ver como é a vida que tenho hoje.”

O segundo aspecto a levar em conta, de acordo com ele, é estabelecer metas de interesse, desde que factíveis e claramente observáveis. “A pessoa tem de ter condições de avaliar a sua conduta no dia a dia. Queremos evitar que ela diga, por exemplo, que vai perder 50 quilos em um ano. Não vai. É melhor dizer que vai perder 1kg por mês.”

Reis também recomenda a moderação nas escolhas dos planos: o foco em duas ou três tarefas ampliaria as chances de realização em relação a estratégias megalomaníacas, mais propensas a frustrações. Por outro lado o especialista considera importante a seleção de apoiadores. “Esteja atento às pessoas com que você possa estabelecer relações de confiança para que elas o ajudem quando preciso.”

De acordo com a opinião da professora Ana Luisa, da FGV, é essencial que a definição de metas de trabalho venha acompanhada do levantamento formal das razões que justifiquem a existência desses planos, pois o cumprimento das promessas está ligado à motivação das pessoas. “Manter uma aspiração maior também é legal.”

 

Metas

Os eventos ruins podem ocorrer, atrapalhando mesmo metas muito bem pensadas, mas não devem ser motivos de desestímulo para as pessoas. A coordenadora do núcleo de carreiras da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Adriana Gomes afirma: “As pessoas precisam entender que talvez nem tudo seja atingido de uma vez, porque as mudanças ocorrem de maneira gradual. Então, é importante persistir enquanto aquilo tiver sentido”.

Eventualmente, algumas mudanças de hábito são também necessárias para que as metas sejam atingidas e devem ser levadas em consideração desde o início do planejamento, de acordo com Adriana. “Se quero estudar inglês, mas não tenho tempo, tenho de me organizar.”

Manter os objetivos e as tarefas ao alcance dos olhos é a dica do presidente da consultoria Lens & Minarelli Outplacement Aconselhamento de Carreira, José Augusto Minarelli.
“Escrever é importante para a pessoa ver. Se isso não ocorre, fica etéreo e mais difícil de controlar a meta”, explica.

Ele recomenda que os profissionais, antes de traçar planos, observem seus desejos e fiquem atentos aos problemas que enfrentam. Outras pistas dos rumos a seguir são dadas nos feedbacks que a pessoa recebe de chefes, colegas, amigos e familiares. “A outra dica é observar o que as pessoas que você admira fazem.”

Se o futuro parecer nebuloso demais para ser planejado, Minarelli deixa uma recomendação básica: “Pergunte a si mesmo: o que me faz feliz na carreira e na vida?”.


* Reprodução autorizada. (2014 – O Estado de São Paulo)

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