Vitalidade e a filosofia do pijama

Por Minoru Ueda

O ser humano não poderá completar-se a si mesmo se não praticar e agir de acordo com a sua virtude mais completa. Sendo assim, o seu bem é agir numa tal atividade que possa lhe efetivar a completude, realizando aspectos fundamentais do seu ser.
(Aristóteles)

Em um ambiente de constantes mudanças, como este em que estamos vivenciando, não é raro que as pessoas estejam cada vez mais preocupadas. O cotidiano é movido por preocupações. Basta uma simples volta ao quarteirão, em uma caminhada matinal, para perceber como as pessoas já acordam elétricas, correndo para os pontos de ônibus, buzinando seus carros e apressadas para chegar ao trabalho.

O mundo está mudando, e a mudança não é mais uma probabilidade, e sim uma certeza. Por estamos certos de que as coisas podem mudar da água para o vinho a qualquer momento, passamos a nos preocupar mais frequentemente com nosso destino.

Neste texto, falamos sobre um tema muito importante sobre a curiosa questão da atualização de carreiras. Em meu cotidiano, ora em sala de aula, ora em reuniões empresariais, sempre me deparo com este tema. O caso mais recente foi após uma palestra ministrada para empresários, executivos e gestores. Talvez, o ambiente seja propício para que essas reflexões venham à tona. Um dos executivos disse que pretendia mudar de carreira pela segunda vez aos 50 anos de idade. Todos ficaram alarmados com o comentário. Ora, qual o motivo de espanto?

Estaríamos mesmo presos a uma profissão para o resto da vida? Se realmente desejamos mudar de carreira, quais seriam os passos a serem dados? Levando em consideração que as gerações tradicionais, os Baby Boomers e a Geração X possuem o conhecimento tácito e o importante brilho nos olhos da geração Y, acredito e afirmo que uma mudança de carreira é completamente concebível no cenário empresarial e econômico em que estamos. Só faz história quem se reconhece como processo histórico. 

Vivemos em um cenário de longevidade, isto é, as pessoas estão vivendo mais porque a qualidade de vida aumentou. A vitalidade mostra que podemos mudar os rumos quando quisermos. Tudo depende de método. Hoje, há uma luta constante contra a “filosofia do pijama”. Ou seja, não é mais saudável pensar no aposentado como aquela figura do bom velhinho que só sai de casa uma vez por mês para retirar seu pagamento e que fica de chinelos andando pela casa o dia todo. A lógica do momento é reconhecer que todo aposentado é um mentor em potencial.

Recentes pesquisas do Censo 2010, realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a população brasileira está cada vez mais madura e o país, em breve, deixará de ser uma nação jovem para se tornar uma nação adulta. Estamos vivendo em uma era de vitalidade em que é possível mudar os rumos de nossas vidas assim que quisermos. As pessoas pensam cada vez mais em exercícios físicos, em se cuidar e levar uma vida mais saudável. Por meio da vitalidade estamos mais aptos a mudar nossos rumos. Vitalidade = saúde + desejo.

Só é possível ter brilho nos olhos quando concebemos a vida como um modo constante de questionamento. Só re-significamos um percurso quando respondemos as nossas questões mais íntimas. Acredito que uma dessas questões íntimas que tememos responder é relacionada à transição de carreira. É este o momento de impulsionar as gerações passadas para a linha de frente aproveitando nelas o conhecimento tácito e as dicas de sobrevivência que utilizaram em suas carreiras.

Tudo é uma questão de comunicação e respeito: o mentor respeita a ansiedade e curiosidade em aprender de um trainee, e este, por sua vez, respeita a sabedoria e as técnicas do mentor. Neste contexto de alteridade, o que deve mudar não é só o cenário externo, mas sim a atitude das pessoas em conceber as gerações mais velhas como mentoras. Aprimorar as pessoas é o trabalho do mentor. Aproveitar a longevidade é nada mais nada menos que “agir numa tal atividade que possa efetivar a completude”, como diz o mestre Aristóteles. E ser completo é ser aberto às mudanças.

Por Minoru Ueda, publicado no portal Mundo do Marketing.
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